sábado, 23 de abril de 2011

''Não está, ele morreu''



O som dos meus passos era a única coisa que ouvia, a rua silenciosa, escura e fria se prolongava em um pequeno percurso silencioso até a minha casa. O céu estava fechado e não havia estrelas, sentia uma leve camada de chuva começar a me molhar. O nada da rua me cativava, talvez por não sentir nada interiormente, me sentia como aquela rua, um estranho, em uma rua estranha, em uma noite, com a chuva se aproximando. Próximo de casa tirei as chaves do bolso e abri o portão. Subi as escadas até o meu apartamento. Escutei o telefone de casa tocar, a ligação caiu enquanto subia as escadas, novamente começou a tocar, apressei os passos, porém, a ligação caiu outra vez. Perdendo a pressa, caminhei e abri a porta, disse um ‘’olá, cheguei em casa’’ para ninguém e passei a chave na porta. Fui até a cozinha, tirei o resto do almoço da geladeira e joguei ele dentro do microondas, enquanto a comida esquentava fui ver as ligações perdidas no telefone. Não havia nenhuma. Fiquei um pouco perplexo, mas ignorei, deve ter sido uma falha no telefone. Porém senti que devia verificar as ligações recebidas, por mais absurdo que isso pareça, fiquei chocado, o telefone indicava que alguém havia atendido os dois telefonemas. Eu verifiquei os números, eram desconhecidos. O som do microondas sinalizando que a comida já estava pronta me sobressaltou, deixando cair o telefone da mão. Apanhei o telefone e fui jantar, estava faminto. Peguei o prato com o jantar, apanhei um garfo na gaveta dos talheres e sentei-me na mesa do meu quarto esperando o notebook ligar. O telefone tocou. Mastiguei até engolir e me levantei para ir atender, só que a ligação caiu mais uma vez. Não, dessa vez alguém realmente atendeu. Eu ouvi a voz. Congelei no lugar onde estava e procurei absorver cada som que vinha da sala e de quem atendeu o telefone. Eu simplesmente não sei descrever, era uma voz muito estranha, mas eu ouvi o que ela disse e ela disse o seguinte: ‘’Não está, ele morreu’’. Das várias coisas que eu poderia fazer, desde correr e pegar a pessoa no flagra em ímpeto de coragem ou correr para longe, não consegui fazer nada, parecia que não processava o que havia ouvido, como se o medo me colocasse em um atraso mental. Eu ouvi a voz repetir mais uma vez e nesse instante apanhei o a cadeira que estava sentado, levantei ela de maneira que pudesse arremessar no intruso e avancei para a sala. Ninguém. O telefone estava no lugar onde eu havia deixado. Intacto, porém, no visor havia ‘’Chamada finalizada’’. Lentamente abaixei a cadeira e peguei o telefone. Verifiquei-o, realmente havia três chamadas atendidas. O pus do lado do notebook e passei a noite prestando atenção nele. Isso havia me assustado tremendamente, porém, eu já estava quase esquecendo o acontecido quando o telefone toca, em segundos o apanhei e levei ao ouvido. A voz disse ‘’Onde está? Me diga!’’ Fiquei em silencio, sem compreender... ‘’Quero que me diga, onde está?! Se não me mostrar, eu vou quebrar se... ’’ Nesse momento a ligação caiu e eu ouvi a estante da sala cair. O susto foi tão grande que cai da cadeira. Levantei-me atônito, atirei o telefone na parede, o despedaçando e corri para a sala. A estante estava realmente derrubada, só que, só que havia um corpo nela, uma mulher, parecia que havia sido jogada, jogada de algum apartamento alto, muito alto, com tamanha força que havia esmigalhado a mesa da sala, e o pior, ela não tinha rosto. A visão me fez delirar, era impossível. Dei alguns passos para trás e cai no sofá. Encarei a cena buscando compreensão. O corpo se move, ele se levanta só que, o movimento dele não é comum, ele é movido por intervalos de tempo, como um vídeo sendo parado e continuado, muito semelhante a o que se vê em filmes de terror. O telefone começou a tocar, mas que telefone? Ele estava em cima da mesa, ela foi até ele, atendeu, e, não sei de onde saiu a sua voz já que não possuía boca, mas disse ‘’Não está, ele morreu’’. E quando olho para o meu peito, vejo que ele foi transpassado por uma estaca da mesa que estava cravada no sofá. Fatalmente ela estava certa.

Um comentário:

  1. Teu filha da puta. Suas palavras somadas à minha imaginação chegaram a me deixar com medo! Acho que você está se tornando um bom escritor para histórias que arrepiam... parabéns maninho!

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