quinta-feira, 21 de julho de 2011

Quando você parte a sorte ao meio com um machado.


Pela posição do sol, já devia esta perto do anoitecer e os dois estavam cansados de caçar uma maldita corça pro acampamento.
- Deveríamos voltar, de que adianta perder dois cavalos em troca de um veado? Já está longe e está anoitecendo. – Disse Raven Blon, o arqueiro estava com tanta preguiça que fedia.
- Cale a boca, eu sei que vi aquela corça entrar aqui, a culpa foi sua, devia estar com o arco armado, como é que você consegue dormir na cela do cavalo? – Já o soldado Jack Cob estava decidido a não voltar de mãos abanando e queria usar o machado novo que conseguira como espólio de guerra na ultima batida contra o exercito francês, pendia preso á cintura, com detalhes dourados e prateados, devia valer uma fortuna mas ele mereceu.
- Anos de treinamento, meu caro – Zombou Raven enquanto abaixava a cabeça para não bater em um dos galhos próximos.
- Queria ver fazer isso em batalha, adoraria enterrar seu corpo e falar que eu avisei – Sorriu Cob.
- Já fiz uma vez, não lembra?
- Me esquecer? Foi por isso que ganhei essa cicatriz – apontou para um corte no queixo. – Devia ter retribuído o favor a você, não?
- Um beijo de sua bela irmã quando voltarmos e estarei satisfeito.
- Bastardo – Riu e parou – Acho que ouvi alguma coisa, ali, acho que está por aqui...- Já havia escurecido e não se via tão bem quanto a uns minutos atrás, o que fez Blon dar pouco crédito, sendo a quinta vez que ele repetia isso. – Vê se não dorme agora, Blon, vamos nos separar, encontramo-nos aqui – Sacou a espada e fincou-na em uma árvore – bem aqui, ok? Quer apostar quem vai pegar o veado?
- Que tal seu belo machado? – Sorriu Blon, sabia que Jack estava amando aquele machado mais que a própria mãe.
- Com seu belo arco? – Jack sabia que Raven amava o arco mais que o próprio pai.
- Até parece, vai logo embora antes que a corça faça-nos de idiota outra vez.
- Medroso – e cavalgou silencioso para dentro das árvores, não sem antes dar uma tapa no cavalo de Blon, que empinou, Blon resmungou alguns palavrões e se endireitou na montaria.
Dessa vez Cob parecia estar certo, realmente se ouvia alguma coisa, Blon ouviu o som vir da direção oposta da que Cob havia tomado.
- Devia ter apostado com o miserável, aquele machado calharia – desceu da montaria e armou o arco e andou silencioso, atento aos sons na sombra, apesar de estar escuro, era um bom arqueiro e dificilmente falhava mesmo nas sombras. Os sons aumentavam à medida que o seguia, silencioso, e ao alcançar uma clareira onde a luz do luar banhava a superfície do mato ele viu a relva próxima se mexer com violência e dela saltou uma criaturinha. Preparou a flecha e já estava quase soltando quando se deteve, não era uma corça, era um homem, ou devia ser um, era um... homenzinho? Era um homenzinho pequeno e ele cantarolava agora, sentara na clareira encostando-se a uma árvore e descalçava as botas enquanto esticava os dedos, como que cansado de um longo dia de caminhada, mas não era um homenzinho qualquer, estava de verde, todo de verde, com um chapéu com uma pena vermelha e um trevo de quatro folhas presa nele, seu cabelo era ruivo e também possuía uma barba ruiva. Do cinto pendia uma bainha com um cabo prateado e podia se ver uma pesada bolsa de moedas, ‘’santo deus!’’ pensou ‘’é um leprechaun!’’ Apesar da surpresa, ele sabia, já ouvira historia quando era criança desses homenzinhos, apesar de ter crescido na Bretanha, ouvia historias do seu avô irlandês e os leprechaun eram de lá, ele dizia que havia capturado um e este lhe mostrara em troca da liberdade, um tesouro perdido. Não era de muito credito já que o avô morrera como um comerciante pobre, mas ainda assim, lá estava um leprechaun! ‘’devo capturá-lo, antes que me perceba, talvez consiga encontrar algum tesouro ou boa sorte. ’’
Apontou a flecha estrategicamente e a atirou, passando pelo tecido e atingindo a casca da árvore mais próxima sem ferir o homenzinho. O leprechaun ficou atônito, pego de surpresa, tentou arrancar a flecha, mas não conseguiu, desajeitado, puxou a espada da bainha e gritou:
- Quem vem lá? – Estava com um pouco de medo do incerto, mas via-se que era corajoso e continuou com a espada levantada.
- Não tenha medo Mestre Leprechaun, não tenho interesse em tirar sua vida. - Isso não deu alívio algum a ele e se se sentiu melhor ao ouvir isso, não demonstrou, mantendo uma carranca desconfiada e mal-humorada.
- O que você quer? Mais um miserável que quer tesouro e boa sorte?
Raven se sentiu muito idiota, era tão obvio, porém quando ele ia falar... um grito. Jack Cob entrara na clareira com um salto brandindo o machado acima da cabeça com os dois braços, desceu violentamente o machado na cabeça do leprechaun e partiu-a ao meio. Blon estava sem acreditar, Cob matara o leprechaun, assim, do nada, isso não podia ser verdade. Cob ainda urrava do calor do golpe e do sucesso quando toda a alegria desapareceu de seu rosto, jurara que era um veado que acertara, não um homenzinho verde. Olhou para Blon procurando palavras mas não as encontrou, Blon deu as costas e seguiu de volta ao cavalo. Montou sem dizer uma palavra, Cob o alcançou e tentou falar alguma coisa.
- Eu não sabia, eu achava que era um cervo, eu, era mesmo um leprechaun?
- Era, e você o matou que maravilha não é? Acabou de nos amaldiçoar.
-Tudo bem, mas acreditar nessas bobagens... – Aquilo irritou Blon, Cob acabará de ver o leprechaun e vinha dizer que era uma bobagem, virou-se e puxou a gola da cota do amigo para próximo do seu rosto.
– Nem mais uma palavra, ouviu? Chega, Cob, chega... amaldiçou-nos, sei disso, matou a boa sorte, jogou-nos azar eternamente, não tem idéia do que fez... – Cob arrancou o braço de Blon com uma arrancada e disse:
- Fique com seus contos de fadas que seu avô idiota contava pra você dormir pra ele poder foder sua mãe enquanto ainda era bonita. – E mergulhou nas sombras. Blon desejou enfiar uma maldita flecha nas costas do infeliz, mas decidiu ignorá-lo, era uma longa caminhada para o acampamento e não queria arriscar uma briga com tanto azar em jogo.
Já estava a alguns minutos cavalgando no silencio quando ouviu um som próximo, era a corça miserável, viu-a pular bem na sua frente e se meter no mato outra vez. Armou o arco e saltou do cavalo, voltaria com a corça e passaria na cara de Cob quando se encontrassem novamente no acampamento, após alguns passos, encontrou na comendo no pasto escuro entre as árvores, apontou e atirou, ela caiu imediatamente, puxando um pouco de ar enquanto a vida escorria pelo buraco da flecha. Pegou-a e a levou para o cavalo, prendeu-a bem e cavalgou com velocidade para o acampamento. Pensou em esperar Cob quando alcançou o campo aberto mas decidiu seguir em frente, encontraria o caminho do acampamento tão bem como ele.
Havia cavalgado uma hora quando finalmente avistou as luzes do acampamento. Passou pelos vigias, mas os seus olhares não eram satisfeitos como esperara, entrou mais a dentro e as pessoas o olhavam horrorizados, não entendia isso, mas continuou. Chegou na barraca que usavam para a cozinha, desceu o animal e jogou-o no chão. – Aqui está o jantar – Disse, satisfeito.
- Que brincadeira de mal gosto é essa? – Disse Cloff Humb, o cozinheiro do exercito, com seu bigode sujo de gordura e sua manta manchada de sangue. – O que significa isso, Blon? Essa flecha é sua, foi você que fez isso?
- Claro que fui, o que você quer dizer com isso? – Cloff sempre ficava satisfeito com as caçadas de Blon e Cob, não compreendia o por que do mal humor mas quando olhou para o animal faltou-lhe ar e uma tontura o acometeu com ferocidade, não era a corça que havia matado, era Jack Cob.

domingo, 10 de julho de 2011

As gralhas

Chamam de preto o corvo.