domingo, 13 de novembro de 2011

Meu Enterro


Não parecia um dia triste como pensei que seria. Não havia chuva, não havia pessoas chorando, nem aquele ar mórbido e triste característicos dos enterros. Fazia um sol tremendo e os pássaros cantavam nas copas das arvores com contagiante alegria. Isso me desapontou um pouco, por que querendo ou não, um dia triste para o seu próprio enterro calharia. Vi as pessoas ao meu redor e poucas estavam chorando, na verdade, ninguém estava, confundi aquela senhora com alergia, achei que ela estava. Não achei ninguém conhecido também, alguns rostos estranhos que sequer lembro, mas nenhum familiar meu, nem um amigo sequer, nem mesmo ela, ah, ela eu pelo menos achei que apareceria, mas não.
Já não basta o fato de estar morto e ser abraçado pela fria morte, ver então que ninguém se importava com isso me incomodou. Andei entre eles e observei a cerimônia. Era tediosa como todas as que eu já tinha visto, mas vi que o padre tinha certa pressa em terminar, ouvi-o dizer para um dos homens perto da cova ‘’vamos acabar logo com essa, preciso almoçar com a minha mãe hoje’’. O coveiro lançava a areia para os ares com gosto, como se cada pá que enterrava e retirava lhe desse mais uma moeda no bolso e seu rosto era visivelmente alegre. Percebi então a miserabilidade da vida, então era isso, cá eu vendo meu enterro miserável, um enterro miserável para uma vida miserável, e eu que esperava algo tão diferente, inusitado talvez, algo com alguma banda tocando algum clássico digno de despedida de algum ente querido, percebi que faltou o ente querido. Aproximei-me de dois homens que conversavam e ouvi o dialogo deles que dizia bem assim:
- Me falaram que não prestava na vida. – Disse um homem baixo e careca, mas com uma seriedade sem igual.
- Eu ouvi dizer que se drogava. – Disse o outro, magro e de óculos.
- E não foi por isso que morreu? Deus tenha a alma dele... Pobre coitado.
- É, pobre diabo, isso sim.
- É, diabo.
- Ao diabo, esse ai.
Engoli em seco e sai de perto, ao diabo eles, que mais tarde vou me empenhar em fazer isso. Fiquei intrigado por não reconhecer as pessoas ali, talvez fosse uma conseqüência da minha morte, não lembrar, pelo menos recentemente, mas de fato não via ali os meus chegados, nem meu irmão, juraria minha alma que pouco vale que ele estaria aqui, pelo menos ele! Ah, isso me incomoda profundamente, a vontade que tenho é de importunar a todos! Como posso ser esquecido e obliterado dos pensamentos deles com a mesma facilidade que deixei a vida? Olhei para o padre, suado e agoniado com a cova que ainda não tinha sido aberta, por certo que resolveram me enterrar ali de ultima hora, e reparando agora, vi que minha cova era aberta no canto do cemitério, bastante escondido e mal localizado, perto de um banheiro, e raios, não é que tem um banheiro ali? Ora, mas que miseráveis são! Nem para me dar uma cova decente? Ri comigo mesmo. Mas ri com raiva. Olhei carrancudo pra tudo aquilo e reparei em uma figura que chamou minha atenção na hora em que pus os olhos, era uma garota, uma garota linda por sinal, e chorava! Aproximei-me para vê-la. Era mesmo linda, seus cachos loiros caiam sobre os ombros nus e com um lenço de renda limpava a ponta dos olhos das lágrimas que escorriam e borravam sua maquiagem. Era de uma pureza tão sem igual, de uma doçura tão grande! Então, seu celular tocou. Ela relutou em atender o telefone mas a persistência a fez tira-lo da bolsa e atender.
- Alo? – Disse com uma voz dura, alta e mal humorada. – olhe, não, hoje não, o que? Sim, o programa é mil e quinhentos, sim, eu faço oral e anal, o que? Sem camisinha? Ora! Mas vá a merda seu puto! - e desligou o telefone. Prefiro não comentar isso.
Cruzei os braços e esperei a maldita cova ser aberta e enfim, abriram. Então, o momento que eu tanto esperava; meu caixão! Dois pedreiros o traziam e um topou em uma pedra e deixou-o cair. Um xingou o outro, o outro retribuiu o xingamento e o padre entrou na conversa e xingou também, a diferença é que ele usava o nome de Deus no fim de cada xingamento. Depois de muita conversa, resolveram-se levantar o meu caixão e colocá-lo na cova.
Era tão estranha essa sensação, ver a si mesmo dentro de uma caixa de madeira, ver as pessoas carregarem como se não houvesse vida ali dentro, o que era verdade, mas, ainda assim... Eu, eu preciso me ver, preciso me encarar uma ultima vez. Avancei a passos largos e passei por todos, o que não era problema já que ninguém me via, saltei na cova e abri o caixão, sim, eu abri ele com facilidade, tamanha era a baixa qualidade de tudo e então...
Um homem velho, enrugado e pálido estava sorrido cadavericamente para mim, mas, esse não era eu, mas que...
- Que diabos é isso em nome de Deus! Saia daí seu maluco! – Disse o padre, enfurecido.
- Você está falando comigo? – Indaguei duvidosamente, levantando minha cabeça para o padre que cuspia mil blasfêmias para mim. – você consegue me ver?
- Mas que baixaria é essa!? Saia já daí seu lunático, não está vendo que está atrapalhando o enterro desse senhor!?
- Senhor, mas esse não é meu enterr...
Fui puxado pelos dois pedreiros que me arrastaram pela grama enquanto todos me lançavam olhares reprovadores e curiosos, me jogaram na calçada do cemitério e por trás de mim fecharam o portão. Meu rosto bateu no chão e cortei meu lábio, passei o dedo e senti o cheiro de ferro do sangue, lambi-o e me levantei.
-É, parece que não morri de novo.

domingo, 30 de outubro de 2011

Sobre o mar



Então foi quando a crueldade do mar, sua inflexibilidade e seu horror se apoderaram de mim. A vida havia perdido o valor, tornara-se uma coisa espalhafatosa, bestial e inarticulada; era um barco desalmado em movimento.

O lobo do mar - Jack London

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Quando a Morte chama pt2

Cedo ou tarde ela chama a todos, os reis não conseguem evitá-la, nem a mais bela mulher, nem toda riqueza do mundo, todos aguardam a sua chegada, o seu chamado, a única certeza em suas vidas, a única coisa que todos possuem em comum, a única coisa que todos atendem; o chamado da morte.
Agora ela fazia o seu chamado.

E o primeiro a atender o seu chamado foi o Rei Elbereth Calderon, o ultimo dos Calderon, morto prematuramente, e junto com ele, toda a motivação e esperança. O exercito caiu em horror ao confirmar a terrível verdade de que seu rei havia caído perante o mal crescente, sem uma figura para encorajá-los, protegê-los, sem o pai de que sempre tanto precisavam, na infância, na juventude, onde estava agora o pai deles? Não havia tempo para isso, antes que cogitassem pensamentos de fuga e suicídio, Dava ergueu sua espada e gritou para a cavalaria negra avançar, um urro terrível, gutural, atravessando o peito de cada homem no exercito. Cavaleiros negros, com lanças e espadas, avançaram a sua volta, porém ele não tomou seu cavalo, mas seguiu a pé, lado a lado com os cavalos de guerra e cavaleiros fortemente armados, e ainda assim ele estava mais alto que todos eles, à medida que a noite chegava, ele parecia ficar cada vez maior.

O conde Lacert avançou com sua cavalaria pessoal, Cornell observou seu irmão Simon nela. Lacert gritou para todos, convocando-os:
- Venham e resistam, venham e morram com o seu rei, venham e honrem o seu momento! Vamos fazer valer cada morte, vamos fazer o miserável sangrar! Sigam-me a cavalaria! E os demais, mantenham as posições e resistam! Resistam! Vamos ao combate! A guerra! Cavalaria, comigo! Os demais, os demais, lanceiros, recuem, liberem as trincheiras, arqueiros, ao meu comando, aguardem, cavalaria, comigo, agora! Agora!

Foi tudo muito rápido e lá estava o Conde com toda a cavalaria as suas costas, avançando corajosamente contra a onda de negrura e poeira que vinha em sua direção, ergueu sua espada e a indicou, era o sinal, e em segundos o céu estava coberto por uma nuvem de flechas em chama, uma luz forte subindo e envolvendo-os como uma aura divina, era o fogo e a coragem nascendo no coração dos homens, a luz cortou a noite com fúria.

Cornell tinha agora uma sensação diferente da de minutos atrás, não era medo, não era hesitação, era êxtase, brandiu a espada e apertou forte o seu punho, o irmão a passara, era a espada do seu pai, e do pai do seu pai, a espada havia sido passada para Simon como irmão mais velho, mas agora Simon a passava para Cornell, ele disse que muito provavelmente morreria e Cornell sobreviveria, e a espada deveria continuar na família, não queria que a perdesse com sua morte. Cornell relutou bastante, mas ele entendeu o que Simon queria. Apertou firme, se preparou para o choque que estava por vir, outra claridade correu pelo céu e percebeu que mais uma saraivada de flechas caia sobre os inimigos.

A frente inimiga parecia intacta, não pela falta de eficácia das flechas, mas pela tremenda quantidade de soldados, sempre avançava mais dois para cada cavaleiro que caia para trás. Dava continuava Intacto em sua corrida, e finalmente as cavalarias se chocaram. Como que dois martelos batidos um contra o outro, o choque repercutiu por ambos os batalhões. Lacert habilmente dançava sua espada de garganta em garganta, defendendo e rechaçando golpes com tremenda facilidade e destreza, enquanto Simon a poucos metros dele enterrava uma lança em um cavalo, largando-a, sacou sua espada e a direcionava ao próximo. Dava com seu escudo acertou a cabeça de dois cavalos em um só golpe, jogando seus montadores aos pedaços para o choque de pés e aço em que se encontrava o chão.

Cornell sentia o chão vibrar sob a batalha travada mais a frente, procurou o irmão, mas não o encontrou, mais uma saraivada clareou o céu da noite, chovendo pesadamente sobre o exercito negro, acendendo fogueiras ambulantes, várias flechas caiam em Dava que, hora eram rechaçadas facilmente pela armadura, hora penetravam inutilmente.

Lacert continuava sua dança com a espada relampejando branca e limpa, vermelho sangue e dourada pelo fogo, derrubando e passando acima de vários, Simon o acompanhava, com igual habilidade e destreza e outros seguiam em um trovão de galope, espadas e lanças. Mesmo assim não era o suficiente para parar a tropa negra e as perdas começavam a aparecer, cavaleiros negros avançavam e cortavam cabeças em um golpe, lançava homens longe da cela com uma lança enterrada no peito, outros atropelavam impiedosamente aqueles que se encontravam no chão. A luta seguiu-se pesada, como um martelo que cai impetuosamente sobre a bigorna, e não demorou muito para Lacert em sua dança e Simon em seu gosto pela batalha encontrarem Dava com sua imensidão de terror. Como em uma floresta de lanças e espadas, abriu-se uma clareira onde os inimigos acabaram virando espectadores indiretamente. Dava encarava Lacert que empinou e avançou em seu garanhão de batalha. Dava preparou um pesado golpe de espada para decepar o cavalo e derrubar seu cavaleiro, mas Lacert habilmente dançou com o cavalo para trás fazendo com que Dava enterrasse a espada desajeitado na terra, avançou e golpeou fortemente o elmo medonho do inimigo, arrancando um dos enormes cornos e rachando levemente o casco superior, volveu rapidamente, retomando a postura de combate antes de Dava recobrar, preparando assim outra desferida, atingindo agora o ombro da armadura, mas Dava impetuosamente jogou-se a frente, atravancando cavalo e cavaleiro e Lacert perdeu o equilíbrio, mas, recuando, retomou-o com facilidade. Dava avançou sem se deter com as flechas que caiam a sua volta, ou enterravam-se em seu corpo, com uma mão agarrou a garganta do cavalo antes que este recuasse e com força o puxou ao chão, Lacert tenta saltar, mas o puxão foi repentino demais e arrebentou-se sob o cavalo em choque.

A clareira de lanças parecia diminuir, era o conflito da guerra se aproximando, centímetro a centímetro. Dava levantou seu pesado pé, todo revestido de ferro e aço, sobre o miúdo elmo de Lacert, prestes a descê-lo feito um trovão, mas justo que é interrompido pelo choque de um cavaleiro em suas costas. Simon empinando o cavalo coiceando preparava para uma segunda pancada e antes de Dava se virar totalmente, avançou e enterrou a espada em seu ombro, atravessando o aço cinzento, e, instigando o cavalo a avançar, enterrou a espada mais e mais. Dava estava perdendo o equilíbrio, mas recuperou-o em um salto, acertando a cabeça do cavalo com um soco tão feroz, que como em uma erupção, arrebentou a boca do cavalo, espalhando dentes e sangue para todo lado. O cavalo enlouquece de dor e antes de Simon cair, Dava toma-o e com a facilidade de um pai que toma o filho nos braços, e lança-o alto paro o meio do confronto da guerra, e pode se vê uma ultima vez o corpo de Simon afundar no meio de espadas, lanças e elmos.

A excitação aumentou como o medo também quando a onda negra chegava cada vez mais perto. A cavalaria desapareceu no negrume, não da noite, mas do exercito. Perdera de vista o irmão, o Conde, e até mesmo Dava, mas viu que a onda vinha, e agora era a hora dela se chocar nas rochas.
- Lanceiros! Tomem a frente! À frente, lanceiros, somente os lanceiros, demais, preparar, preparar, arqueiros, continuem a disparar, lanceiros, preparar, formar, em posição, ai vem eles! Nos cavalos, lembrem-se, nos cavalos! – Gritou algum dos comandantes assumindo a posição a frente dos lanceiros. Não teve tempo de criar expectativas quanto à chegada da cavalaria pesada ou pensar onde se encontrava os outros, sentiu em seu ombro a mão de Carl e ouviu-o dizer:
- É agora.

A maioria dos cavalos teve o galope interrompido pelas trincheiras, quebrando patas, caindo, derrubando os que estavam próximos deles. Os de trás se atravancavam com a iminente muralha de cavalos fervilhando com patas torcidas, cavalos tentando se levantar, gritos de terror e cavaleiros atordoados. Mas a força da cavalaria continuou e atropelaram os que remanesciam no chão, mas eram poucos os que chegavam às lanças e logo tinham flechas plantadas no peito, no elmo com tamanha força que se lançavam para trás. Ainda assim, vários chegaram. As lanças armadas enterravam-se vigorosamente nos cavalos com a força com que vinham a galope. Cavaleiros eram lançados no ar, outros resistiam, mas logo eram puxados e degolados. Os lanceiros resistiam e enterravam suas lanças mais e mais, amontoando corpos e mais corpos. Não demorou muito para a cavalaria negra começar a escassear, os poucos que se atreviam eram enchidos de flechas, derrubados, degolados, isso se não fosses impedidos pelas lanças ou trincheiras. A esperança crescia à medida que a luz aumentava ao redor, mas não era pela chegada do alvorecer, era pelos corpos em chama.

Então um longo som saiu de um berrante perdido da noite, um longo e pesado som, como se todos os deuses juntos urrassem em fúria.
- É a infantaria pesada, é agora que dará utilidade a sua espada, jovem, prepare-se – Disse, desatando o machado e brandindo-o com as duas mãos, cerrou os dentes em um sorriso – é agora que vamos enviar esses cretinos pro inferno!
Cornell tentou acompanhar a animação, mas não ver o irmão o preocupou imensamente, mas tentou não pensar nisso, era a guerra e isso acontece nela, ele atendeu ao chamado da morte. Apertou o punho da espada e inspirou ar, mais como se fosse coragem do que ar.
- Lanceiros, recuar, mudar de posição, infantaria, à frente! Arqueiros aguardem ordem, esperar aproximação, não desperdicem flechas! Não desperdicem, esperem a ordem. Infantaria, preparar! – Era o Ivon Malazar, velho comandante de guerra, possuía cicatrizes no rosto, uma voz poderosa e mais coragem que o exercito inteiro junto. Sacou a espada e ficou a frente da sua tropa, as demais outras eram controladas e preparadas por seus devidos comandantes. Cornell estava próximo dele e pode ver nos olhos dele o calor da raiva que circulava dentro de si, quase parecia que exalava tanto calor quanto os malignos olhos de Dava.

A infantaria estava se aproximando, Ivon ordenou as flechas. Mais uma saraivada de luz cobriu a noite e enterrou-se na mancha escura que se move, tentando inutilmente retardar seu movimento. Agora à luz do fogo e próximos, Cornell via como era uma infantaria bizarra, a maioria era formada por cavaleiros negros, completamente vestidos em aço negro e pareciam bastante disciplinados, alguns eram maiores que outros e a diversidade de armas era grande e, obviamente, a frente deles, encontrava-se Dava, reparou em seu elmo com apenas um chifre, imaginando como deve ter perdido ele. Mais flechas, caindo pesadamente, mais outras, e mais, e logo podia se vê aqui e ali o fogo percorrendo o exercito em capas em chamas ou tecidos escuros consumindo-se em fogo. Estavam agora próximos demais, Ivon levantou a espada a frente, era o sinal para a infantaria, o sinal para Cornell, era agora, sem discurso, sem estimulo, sem benção, era agora.

Todos ao seu redor urraram ferozmente e dispararam erguendo suas espadas, machados, martelos, facas, adagas, lanças, e ele acompanhou-os erguendo sua espada e juntando o seu grito aos outros, atendendo ao chamado da guerra. Correu com Carl ao seu lado e Edgar um pouco atrás e muitos outros a sua volta, mas aquilo pareceu uma eternidade até enfim chegar ao conflito. O primeiro choque foi obviamente, na linha de frente, onde os cavaleiros desciam e subiam suas armas impetuosamente contra seus adversários enquanto os outros escorriam os daqui para lá e os de lá para cá e não demorou a Cornell encontrar seu primeiro oponente. Era baixo e corpulento, com um pesado martelo, o elmo possuía chifres pequenos e pontudos, avançou para ele brandindo o machado e descendo-o pesadamente, acertando e rachando o chão rochoso ao seu lado, por poucos centímetros. Agora, uma sensação não de medo nem excitação tomou-o, mas sim a responsabilidade do jogo e da luta, com a espada firme em sua mão, sabia o que devia fazer, e fez. Rapidamente, antes que o homem pudesse levantar o machado, subiu a espada em um relâmpago e por pouco não fez descolar a cabeça do tronco por inteiro. Com um ponta-pé afastou o corpo da espada e virou-se para o próximo inimigo que já estava próximo demais, um cavaleiro de quase dois metros com uma clava, vindo em sua direção, mas interrompido pelo machado de Carl em seu joelho, que o fez se dobrar e urrar de dor, Cornell enterrou sua espada na nuca nua do cavaleiro negro e silenciou os seus gemidos. Não havia tempo para saborear vitória alguma, quando percebeu já sentia o sangue quente descendo pelo seu braço pelo raspão de um golpe de espada. Tentou recuar, mas o segundo golpe estava próximo demais e por pouco não fez um corte profundo em seu peito graças a cota de malha, recuperando-se, lançou-se a frente, desarmando o terceiro golpe e atacando sem chances de erro e logo estava mais um no chão.

Quando derrubou mais um, percebeu que Carl estava com dificuldades, um homem alto, coberto com cota de malha, dançava com laminas curtas, rápido demais para ele, atingindo-o várias vezes, mas levemente, enquanto este detinha a atenção nele, sem muita delonga, avançou e cortou-lhe o pé com um golpe de espada, retribuindo o favor para Carl, deixando o homem contorcendo-se no chão, onde Carl sorriu e finalizou-o. Uma agitação fora do comum se aproximou e percebeu pelos gritos dos seus companheiros que não era nada bom.

Era Dava, arrebentava e esmagava impiedosamente todos a sua volta, um desses, pensou, e seria capaz de parar um exercito inteiro, porque podia se ver os homens correndo dele e não demorou para ver Dava andando fogosamente em um espaço aberto, em meio a corpos e homens fugindo. Trocou um olhar com Carl e confirmaram aquilo que fariam. Dava logo os percebeu, pois eram os únicos que não se afastavam aos tropeços, e como um leão esfomeado, avançou em cima deles, a espada cortou o ar entre eles, mas saltaram para trás a tempo. Carl rolou e atingiu com o machado o calcanhar de ferro de Dava que voltou-se em uma cotovelada em seu ombro que lançou-o no chão, mas logo rolou e retomou a postura, enquanto isso Cornell avançou e enterrou a espada em uma brecha da cintura de Dava, este contorceu-se e curvou-se com a dor repentina enquanto Carl saltava as suas costas com o pesado machado.
O aço não permitiu que o machado penetrasse, mas mesmo assim rachou e abriu uma fenda. Com dificuldade Cornell conseguiu recuar com a espada em mãos enquanto Carl rodeava Dava, tomando distancia. Ergueu-se enorme entre os dois, a espada firme na mão, brandiu-a e a girou cobrindo um raio de quase seis metros. Ambos saltaram para trás e ele escolheu Cornell como alvo para o segundo, este saltou com facilidade para longe, depois, avançou a fim de arremeter um golpe a suas pernas, mas Dava voltou o corpo em um escorão e o empurrão foi tão forte que Cornell teve certeza que quebrou umas três costelas quando enfim estatelou-se no chão, tentando respirar. Carl não demorou a vir em auxilio e antes de Dava se aproximar mais de Cornell, atingiu a fenda que conseguirá criar, abrindo-a ainda mais. Dava virou-se com tanta fúria que Carl não teve tempo de desprender o machado e quando Cornell viu, o machado enterrara-se em suas costas. Tentou se levantar e ajudar Carl que agora estava desarmado, mas as pontadas nas costelas o impediu de se mover. Carl não fugiu, tão teimoso, pensou, devia ter fugido, tentou gritar, mas as pontadas calaram ele. Dava agarrou-o e arremessou-o contra o chão, como se fosse uma fruta podre. Carl espatifou-se e cuspiu sangue e dentes e antes que conseguisse se levantar, Dava pegou-o pela cabeça, entre as duas mãos, e começou a espremê-la. Cornell ficou aterrorizado ao ver Carl esperneando impotente e perguntou-se onde estavam os outros, por que ninguém vinha ajudá-los?
Carl chutou e acertou a cintura onde Cornell perfurara, e aquilo de alguma forma magoou a ferida e Dava soltou-o e contorceu-se, Carl levantou-se, seu rosto estava amassado, seu ouvido sangrava e seu nariz também, a boca tinha sangue coagulado e quebradiço, cambaleou em direção a Cornell enquanto Dava se recompunha.
- Consegue-se levantar? – Sorriu desdentado, Cornell ficou tão impressionado com a sua resistência que quase se esqueceu da própria dor e se apoiando, levantou-se com sua ajuda.
- Como você consegue? – Perguntou entre tosses, enquanto se recuperava – você está péssimo!
- Sou Carl Gravalot, e os Gravalot são conhecidos pela sua resistência, não comentei isso com você? – cuspiu mais um dente.
- Sim, comentou... – Dava estava encarando-os com se entendesse o que se passava, mas era impossível achar que aquela criatura possuía algum restígio de humanidade. Cornell apertou a espada e preparou-se, Carl apanhou uma lança do chão e começou a rodear Dava. O primeiro ataque veio de Dava e foi em direção a Cornell, a espada quase arrancou os pés se este não tivesse saltado e caído para trás, em seguida, Dava vibra de dor quando a lança de Carl atinge-o em suas costas, junto do machado, dessa vez, impetuoso, vira-se e vai a sua direção, como um touro, Cornell viu a lança e o machado enfiados ambos na brecha que Carl abrira. Dava jogou a espada no chão e agarrou Carl sem piedade. Largou-o com força no chão e começou a socá-lo e esmagá-lo com seus pesados punhos. Cornell não pode suportar isso, avançou com a espada em punho e enterrou-a o mais profundo que conseguiu na brecha aberta por Carl. Dava virou-se repentinamente em uma cotovelada que era só aço e lançou-o longe, quando Cornell levantou-se, ainda tinha a espada em punho, mas soltou-a quando viu o que se tornara Carl. Nada, simplesmente nada, virara nada sob os punhos de Dava, era só uma sopa de sangue, aço e ossos. Lágrimas quiseram queimar em seus olhos, mas a raiva o fez apertar o punho da espada e dirigir-se lentamente em direção de Dava.

Dava queimava por dentro, de raiva, de ódio, de dor, e avançou como uma avalanche de rochas na direção de Cornell. Levantou o punho coberto de ferro e desceu-o como um martelo sobre a cabeça, mas Cornell rolou e quando Dava inclinou-se demais atingindo o chão, voltou-se e na leve brecha que Carl abrirá em um dos seus primeiros golpes, no calcanhar, enfiou a espada lá, enterrando até atravessar completamente e ver surgir-la do outro lado. Dava vacilou e topou o joelho no chão, era seu fim, os grandes, disse Simon uma vez, só tem tamanho, se caírem, são como as torres, vulneráveis. Quando tentou retirar a espada, Dava virou-se como um animal feroz e rechaçou-o, então começou a mover-se em sua direção como um carro de bois, avassalador, tentando atropelá-lo.
Cornell não teve outra escolha a não ser afastar-se em um salto, mas Dava continuou, cada vez mais rápido, avançando e avançando e quando Cornell percebeu tinha dando mil passos para trás. Via-se agora correndo, fugindo de Dava em seu trote avassalador, meio mancando ao chão, meio em pé, mas esmagando a todos que via, quer seja do seu lado, quer não. Viu-se abrindo caminho entre espadas, lanças e escudos, tentando fugir o máximo que podia de Dava até que sentiu uma pontada no estomago, uma forte pontada e todos ao seu redor encaravam-no. Uma sensação etérea começou atravessar seu corpo, mas o medo ainda era maior, quando se virou e viu Dava se aproximar... mas ninguém parava-o, ah, não, alguém...

O golpe descreveu um raio, a espada a baixo atingindo a nunca de Dava que não parou, o golpe se repetiu e atingiu uma segunda vez a nunca, mas ele continuou a avançar em sua direção. Havia parado de fugir, a sensação estranha continuava a percorrer seu corpo, mas só tinha olhos pra o acontecimento. O terceiro golpe foi descido com a ponta da espada e essa se enterrou na nuca de Dava, brotando como uma língua prata e vermelha de sua goela. Dava ainda seguiu, mas a espada foi pressionada com mais força, forçando-a a atingir o chão e a cravá-la. Dava se viu forçado a parar, o sangue descendo unicamente através da espada, molhando o chão, ‘’o sangue molhará’’... seu próprio sangue. Ergueu as mãos para tentar alcançar uma ultima vez Cornell, torcendo-a tão próximo dele que sentiu o calor que exalava delas, até que ele foi ficando mais devagar, menos impetuoso e por fim arriou-se e desceu a cabeça pela espada como em um escorrego.
Simon estava lá.

-Ah, Simon, você esta viv...! – a voz faltou-lhe e a face do irmão estava tão séria, por quê? Mataram Dava, Simon estava vivo, tudo estava bem agora, os irmãos juntos, tudo está bem...
- Eu sinto muito, meu pequeno... – Disse Simon abraçando-o, ainda assim não entendeu até que tentou levantar os braços e retribuir o abraço, mas não vieram forças, quando abaixou a visão para tentar entender o porquê, encontrou a resposta.
Estava encravada até mais da metade, um punhal longo e escuro, o sangue esvaia, mas ele sequer o sentia, apalpou e viu a palma da luva úmida. Riu.
- Papai teria orgulho em me ver assim?
-Sim... Teria... raios, não era você, devia ter sido eu... – Os olhos castanhos do irmão agora pareciam dourados, por quê? Talvez fossem as lágrimas, sim, eram as lágrimas dele. Por mim. O irmão pronunciou algumas palavras, mas elas começaram a se esvair e não conseguiu compreende-las, tentou falar, mas também não vieram, sentiu apenas o calor do irmão em seu abraço e o frio crescendo dentro de seu corpo a medida que o sangue esvaia, então a visão foi ficando turva e escurecendo e achou que a ultima coisa que viu foi os olhos dourados do irmão. Será assim então que acaba? A guerra é assim, muitos acabam sem saber como a guerra termina. Nunca saberei, pensou, quem vencerá, como tudo acabará, cometi o erro de acabar antes do fim. Ainda sentia o calor do irmão e então soube que ainda estava vivo. Uma ultima vez sorriu.

Agora preciso ir irmão, a morte está me chamando.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Um ultimo beijo

Os convidados estavam chegando e ele os recebia com todo o seu charme e cavalheirismo, perguntando sobre a família, elogiando as roupas e lamentando os que não vieram, se recostou na janela, com uma taça de champanhe na mão enquanto admirava a vista e escutava o cacarejar das falas na sala de estar. Odiava a todos, ah como os odiava, sentia aquilo tão vivamente percorrendo seu sangue à medida que bebia. Sr. Carl com sua ânsia em comer como se não houvesse amanhã, a Sra. Berta e seu magnífico jeito de encontrar um defeito em tudo, Mr. Guliver e sua capacidade em falar como um papagaio, ou então Sr.Wood e seu ar de sempre estar com razão, mas muitos outros que chegavam e se mostravam mais insuportáveis que os outros, era tanto rancor que se esqueceu de porque chamou-os, porque mesmo? Ah, por ela, mas ela ainda não havia chegado, Elizabeth Bolton, ah, isso mesmo, por ela mesmo que ele tinha armado tudo.
- Está muito charmoso hoje, Sr. Alan Ronnie – trouxe o de volta dos seus pensamentos a Srta. Milenda Grow com seus olhos miúdos e claros e boca aberta em um sorriso branco.
- Ah, gentileza sua, madame, de certo que seus olhos já devem estar enevoados com o álcool. – Milenda soltou risinhos e disse:
- Ora, não seja bobo, Mamãe adoraria velo tão bonito assim, pena ela não poder ter vindo.
- Eu lamento muito, espero que mande lembranças para ela, na Itália, é isso?
-Sim, está tão animada, Papai acha que poderá ir para a França também logo mais, estou certa que irá nos visitar em breve.
- Tenha certeza disso – e sorriu – bem, agora com sua licença, tenho convidados para receber.
Era ela, enfim, sentiu o coração saltar, enfim ela chegou, ah, tão linda, admirou-se, sempre o admirava quando a via, estava com um vestido azul de um tom tão profundo que se ajustava tão bem ao seu corpo, delineando perfeitamente suas silhuetas, combinando com seus grandes olhos azuis, hora tão escuros como negro, hora tão claros como um céu estrelado. Seus cabelos castanhos ondulados desciam sobre seu busto e ombros nus tão alvos como uma vela, e seus lábios vermelhos era um choque em meio a sua pele branca.
- Seja bem vinda a minha humilde festa, Elizabeth Bolton – e inclinando-se para beijar sua mão – estive aguardando ansiosamente a sua chegada.
- O prazer é meu – seus olhos relampejavam – Alan, estive com saudades, por onde andou?
- Os estudos, um tempo fora do país, nada mais, fiz questão de fazer esta pequena comemoração pela minha formatura, nada muito extravagante.
- Sempre modesto assim? – riu – agora pode ir entreter seus convidados, não quero tomá-lo deles.
- De forma alguma, faço questão de acompanhá-la esta noite, se não a incomodar, claro.
- Será um prazer. – deu a mão para que ele a tomasse e o acompanhou pela sala.
A noite seguiu-se maravilhosamente bem, sentia o coração saltar toda vez que ela lhe direcionava um sorriso, e pra sua felicidade, não precisou sair do seu lado durante a festa inteira. Estavam na varanda e ele esqueceu-se do que conversavam olhando os cabelos castanhos esvoaçando levemente com o hálito frio da noite.
- Eu perguntei se você lembra-se de quando caiu do cavalo naquela tarde de outubro de 1941, eu acho, ou foi 42?
- Ah, hum- franziu o cenho pensando, tentando lembrar e ela riu.
- Claro que não se recorda disso, chorou como uma garota.
- De modo algum, encarei valentemente minha contusão.
- Com muitas lágrimas nos olhos. – Seus olhos eram só diversão.
- Não seja tão avarenta, você também chorou.
- Por que eu choraria?
- Ora, por mim, ficou preocupada, eu vi, pensou que eu ia morrer.
- Eu? Chorar? – abafou risos fingidos – obviamente que não, meu cavalheiro. – ela sorriu e encarou o céu escuro e adquiriu aquela beleza que as mulheres têm quando estão tristes. – eu senti sua falta quando foi embora.
Então ela sentiu, pensou, sentiu falta dele, aproximou a mão da dela e a apertou.
- Também senti, senti falta do seu cheiro. – Encostou levemente o nariz em seu pescoço nu e sentiu-o, ela arrepiou fracamente.
- Abrace-me, sinto frio, esqueci como aqui faz frio. – abraçou-a por trás e sentiu ela se entregar confortavelmente aos seus braços, o seu cheiro enchia-lhe e ele fechou os olhos de prazer. Ficou ali até ela se virar e olhar em seus olhos, e ele sentiu-se mergulhar naquela profundeza azul, mas era duro, e frio.
-Amo-o, mas amanhã voltarei para Paris, se você houvesse voltado mais cedo... Antes de tudo...
- Não precisa voltar, pode ficar aqui comigo... por favor... –sentiu a voz ficar frágil, tão perto agora e tão longe amanhã, não podia suportar isso, tomou o rosto dela em suas mãos e tentou penetrar em seus olhos de marfim. – Fique comigo por essa noite, é tudo que peço.
Os olhos dela vacilaram e relampejaram de duvida e certeza, mas o sorriso que brotou em seus lábios dizia tudo que ele queria ouvir sem palavra alguma ser dita.
Não demorou muito para o restante dos convidados terem partido.
- Sinto muito em abandonar vocês dois aqui, mas receio que minha Edilaine esteja ansiosa com minha demora, está demasiado tarde, boa noite a vocês senhores – despediu-se Sr. Carl.
Alan foi até a cozinha encontrar o mordomo Rodric ocupado com a louça suja.
- Está tarde, Rodric, pode ir para casa. – O velho mordomo não se assustou.
- É a senhorita da outra sala?
- Sim, ela mesma, deixe-nos, venha no inicio da próxima semana, tire os dias para descanso.
-Agradecido, senhor – e com uma leve reverencia, retirou-se aos seus aposentos a fim de levar suas coisas.
Encontrou-a com uma taça vazia ao seu lado na mesma janela onde esteve no inicio da festa, olhou-o e disse.
- Seus olhos estão quentes
- Talvez seja o que eu vejo que os deixe quente. – e chegando se mais a ela, uma mão subiu levemente para sua nuca e a outra para sua cintura e trouxe-a levemente para próximo do seu corpo, ela deixou-se ir sem demonstrar nenhum protesto. Os braços dela se enrolaram em seu corpo e o beijo ardeu em seus lábios. As mãos dela desciam pelo seu corpo e o agradava levemente, enquanto ele a tomava cada vez mais em um abraço avassalador. Ela chegou ao seu ouvido e ronronou calorosamente:
- Leve-me para sua cama, leve-me agora. – e com um empurrão, livrou-se do seu abraço e desfilou sensualmente até as escadas, onde levando suas mãos as costas, encontrou um zíper que descendo livrou-a do vestido escuro, revelando seu corpo escultural, suas roupas de cetim azul claro em sua pele branca eram uma visão sensual do céu. Acompanhou-a enquanto subia lentamente, seduzindo-o. Abriu a porta do quarto e sentou-se na beira da cama, esperou ele chegar mais perto e puxou-o, desafivelando seu cinto enquanto encostava os seios firmes em seu corpo. Quando terminou de desafivelar o cinto e abrir sua calça, empurrou-o e virando-se, deitou-se na cama. Seus olhos relampejavam. Sentiu o prazer subindo pelo seu corpo, o coração batendo excitante, a vertigem crescendo, o arrepio pela espinha, o desejo. Subiu na cama e ela tomou-o em um beijo quente, suas mãos vasculhando seu corpo em direção a um prazer maior, beijou-a em seu pescoço e desceu levemente aos seus seios, desnudando eles, beijou-os e ouviu-a suspirar de tensão, continuou. Levou suas mãos a eles e apertou-os, ela vibrou, então, subindo as mãos pelo busto nu, massageando carinhosamente, encontrou seu pescoço tão bem feito, acariciou levemente e com os dedos abraçou-o violentamente. O rosto dela enrubesceu enquanto ele apertava gostosamente os polegares contra a goela dela. Tentou se livrar, mas em vão, as fortes mãos dele a agarravam violentamente e carinhosamente ao mesmo tempo. Teria demorado menos tempo, mas aquilo dava tanto prazer a ele que levou quase cinco minutos para acabar com ela, quando viu seus olhos acusadores relampejarem uma ultima vez, disse:
- Não se engane, todos são assim, apenas sou mais sincero que eles.
E beijou uma ultima vez seus lábios agora frios.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Quando a Guerra chama pt1


Muitas espadas foram forjadas por sua causa, como também, muitas foram trincadas, muitos escudos feitos e partidos, muitas vidas nascidas e perdidas. A senhora Guerra faz o seu chamado. Tem se passado alguns anos desde que ela chamou, desde que os homens tem atendido ao seu chamado, uns por liberdade, outros por amor, outros por poder, outros por prazer.
Ele estava sentado perto da fogueira do acampamento amolando um punhal velho que encontrara, um rapaz jovem ainda, não tão jovem talvez, nesses tempos escuros tornavam-se homens mais cedo. Chamava-se Cornell Brown. Ouvira que esse seria o ultimo confronto, a máxima de todos os dois exércitos se concentravam ali, naquela planície, separados apenas por alguns poucos quilômetros, esperando o momento para o derradeiro fim.
Milhares de homens se aglomeravam entre capas velhas de barraca e pedaços de madeira ao seu redor, do outro lado podia se ver no horizonte o resto do campo coberto por uma mancha escura de onde aqui e ali subia colunas de fumaça escura. O exercito de Sete cabeças, era como chamavam todo aquele espaço escuro que se movia. Dava Leviathan, ou como preferia que o chamassem, o Rei de Sete cabeças, era o dono daquele exercito. E a guerra tinha um papel a realizar para ele.
Há muito tempo atrás dizia se que o mundo era regido por Leviathan, o dragão do caos, o devorador de anjos, aquele que o vôo era tão alto e devastador que ia ao próprio céu se alimentar de anjos, até que ele adormeceu, definitivamente, não se sabe como, se foi um papel do próprio Deus, se houve algum anjo que realizou tal, mas ele adormeceu. Embaixo da terra, eternamente enterrado e preso no mais profundo sono. Mas isso remota há tantos séculos, milênios, que não era mais que um mito. Os Leviathan, uma família poderosa, respeitada por todos os reinos, apesar de seu comportamento incomum, envolvidos com necromancia, bruxaria, coisas do gênero, mas temidos pelo seu exercito ameaçador, até que o Rei de Sete Cabeças decidiu realizar uma empreitada de caos, como gostava de expressar. Nos escritos da família dizia-se ‘’Quando as Sete cabeças derramar sangue de todos mortais, inocentes e corrompidos em exagero sobre as terra marcada, o sangue molhara, o fedor cheirará e assim o Devorador retornará para restabelecer o caos de outrora... ’’. Dava em sua eloqüência, autoproclamou-se o Rei de Sete cabeças e agora estava empenhado em realizar a profecia de sua família.
O caso era que poucos deram credibilidade a essa ‘’profecia’’ até que se começou a matança em escala exorbitante, Dava massacrou cidade após cidade, a fim de derramar por toda a terra o sangue para assim molhar e cheirar. Para impedir essa insanidade, os homens livres reuniram-se para enfrentar tal causa em comum, guiados pelo rei Elbereth e isso tem durado quase 10 anos, até essa noite.
Cornell voltou de sua retrospectiva quando um homem sentou-se a seu lado e começou a preparar uma lebre para a fogueira com pressa, enquanto mais outros dois se aproximavam e sentavam-se ao redor da fogueira.
-Dizem que será a meia-noite – Falou o homem da lebre, podia sentir a divisão do medo em cada sílaba pronunciada.
-É, eu soube algo do tipo – Disse outro que descalçava as luvas tentando transmitir um pouco de descaso, pensar muito antes só piorava as coisas. Aproximou as mãos do fogo e as esfregou uma na outra.
- Os homens não estão muito confiantes – disse outro, menor que os outros, mas bastante robusto, tinha um machado pendurado à cintura, confundiam-no facilmente com um anão.
- O Conde parece animado com a estratégia de combate, estão preparando trincheiras e chegou outra remessa de lanças do sul, de Estevan, a frente dos lanceiros irá resistir bastante, e dizem que há muitas montarias nos Sete Cabeças. – Disse o próximo ao fogo.
- Essas montarias cospem fogo, foi o que me disseram, elas precisam mesmo é de um pesado machado como esse no meio das narinas ferventes.
Riram fracamente, um sorriso cansado para cada um.
- Quer um pouco, Brown? – Apontou o homem da lebre um pedaço para Cornell – hum?
- Não Edgar, obrigado, isso tudo ta me tirando o apetite.
- Não pode ficar sem se alimentar, precisará de força, meu jovem – Disse o do machado, Carl.
De trás de todos os outros surgiu um homem, um tipo diferente, bastante parecido com Cornell, com uma aparência levemente mais velha, com cabelo e olhos bem mais escuros, possuía uma armadura e cota de malha, desgastadas, mas com a sua devida qualidade, no braço uma atadura manchada com gotas vermelhas.
- Bem rapazes, está na hora. - Disse sorridente. Os cabelos escuros brilhavam castanhos á luz da fogueira.
- Sente-se conosco Simon, ainda tem um pouco de lebre – Falou Edgar.
- Só se for para palitar os dentes, não é? Vamos, o Conde está nos convocando, preparem suas coisas. – Os demais se levantaram e seguiram em direções diferentes, menos Cornell, Simon sentou-se ao seu lado.
-Tome cuidado hoje a noite, papai gostaria de nos ver aqui. – Agora estava sério, eram bastante parecidos, cabelos escuros ao vento, olhos castanhos, e a pele suavemente queimada.
- Você também...
- Não vá chorar, venha, o capitão está mandando nos preparar, o rei descerá em breve.
- Descerá? – Cornell ficou surpreso.
- Sim, ele vai tentar estabelecer condições de guerra.
Foi até a sua barraca e tirou de lá o resto de seus equipamentos, colocou a bainha na cintura, retirou a espada e a observou, a lamina pálida e limpa, viu o reflexo fraco do seu rosto nela, segurou a firme e sentiu o equilíbrio que lhe proporcionava, a embainhou e apertou o cinto. Verificou a cota de malha, seu colete de couro fervido, seu sobretudo de couro, luvas e botas. Pensou se dessa vez não seria mesmo a ultima vez em que se vestia, flexionou os dedos dentro da luva e sentiu a força dos dedos aderindo ao couro, sentiu gosto pela vida, olhou para o céu bem iluminado pelas estrelas, um céu muito alegre para uma noite tão triste, mas era pra ser assim, talvez tudo tivesse um final feliz.
Dentro da barraca desenrolou um pequeno porta retrato e o observou, havia uma pintura de uma jovem mulher, passou o polegar ao redor do seu rosto, como se pudesse acariciar ela, enrolou-o em um pano e o guardou, desarmou a barraca e levou sua bagagem para o deposito do exercito. Após isso subiu para a reunião do capitão da tropa que pertencia, a tropa do Conde de Lacert, ele estava dando as devidas instruções, ele permaneceria na terceira frente, atrás dos lanceiros, iria parar aqueles que as lanças não fossem capazes de derrubar. Foi preparado pequenas trincheiras com pouco mais de um palmo de largura para quebrar as patas dos cavalos e de homens desatentos. Simon disse que a tropa de Estevan do sul estava chegando, talvez no meio da noite, infelizmente teriam de começar a guerra sem eles, mas seria uma surpresa para o inimigo. Desceram para a planície e se posicionaram nas suas devidas formações. Não ficou próximo de Simon, que participava da cavalaria, mas tinha seus amigos ali.
O rei Elbereth surgiu em seu cavalo saudando a todo o exercito, cavalgou de cima a baixo, encorajando a todos os homens com palavras de esperança e força, era um rei como contavam as historias, forte, austero e corajoso, na cabeça possuía uma coroa trincada, a mesma que o pai usara quando morrera em combate, muitos povos trouxeram coroas belamente forjadas em prata, ouro, com rubis e diamantes, mas ele fazia questão de honrar a memória do pai e continuar com a velha e trincada coroa, porém, ainda assim, em sua decadência, bastante bela. No horizonte se via também o exercito de Sete Cabeças em formação, mas não podia se ver bastante, apesar do céu estrelado. Da direção do exercito veio o mensageiro apressado, como que com a morte a suas costas, o que não deixava de ser, disse que Dava concordara em negociar, Elbereth fez questão de ir sozinho e Dava também. Elbereth se dirigiu sozinho para o centro da planície.
Dava assustou metade do exercito quando avançou em seu garanhão negro. Era incrivelmente grande, devendo ter quase três metros, alguns diziam que crescera assim por bruxaria para montar o Leviathan. Sua armadura negra cintilava opaca com o céu claro, mas o que chamava atenção a Dava era seu enorme elmo com chifres do tamanho de braços humanos, com aquela altura e vestimenta, não teriam dificuldade em confundi-lo com o demônio em pessoa, mas, o que realmente assustou foi o brilho dourado que era emanado de dentro do elmo pelas frestas dos olhos, como se fogo estivesse ardendo lá dentro. Cornell teve certeza que metade do exercito estremeceu ao ver Dava Leviathan aparecer.
Não se pode ouvir o que os dois falaram, apenas alguns sussurros de Elbereth, mas quando Dava respondia as suas exigências, um rugido vindo dele levantava-se e cortava o tenso silencio da noite. Os dois sacaram as espadas e desceram dos cavalos, iriam lutar. A linha de frente do batalhão quis avançar mas Elbereth ergueu a mão sinalizando que aquilo estava de acordo, iriam lutar e não desejavam ser interrompidos.
Elberth sacou sua espada, uma longa espada que a empunhava com as duas mãos, Dava fez o mesmo com sua arma, uma enorme espada que, incrivelmente a manejava com uma mão apenas, das costas tirou um tenebroso escudo e o prendeu em seu braço esquerdo, de dentro do seu elmo exalava calor. Era uma luta de titãs e a esperança dos homens estavam depositadas em Elbereth.
Dava avançou com força o escudo na direção de Elbereth, acertando e lançando-o ao chão, virou-se e desceu a espada com tremenda velocidade, e teria partido Elbereth ao meio se este não tivesse rolado a tempo. Em rápida subida, Elbereth atinge o braço esquerdo de Dava fazendo com que as correias do escudo se soltassem, em seguida desferiu um pesado golpe na perna mas foi parado a meio caminho por um soco em cheio de Dava, foi lançado alguns metros no ar e caiu no chão procurando algum vestígio de ar para aliviar a dor dos ossos recém quebrados. Dava apressou o passo em sua direção, brandindo a espada acima da cabeça, Elbereth apertou o punho da espada e levantou-se com dificuldade. O golpe de Dava veio tão rápido quanto o outro e Elbereth saltou para trás, e em seguida outro e mais outro, Elbereth precisava encontrar uma brecha, o corpo de Dava era inteiramente coberto por sua maciça e negra armadura, mas viu, conseguiu ver que nas juntas dos braços e do pescoço havia espaços, era ali que precisaria acertar. No golpe seguinte de Dava, Elbereth desviou e, ao invés de saltar para trás, avançou e desferiu precisamente um golpe nas juntas do braço direito de Dava. Para Elbereth, o tempo que o golpe levou para ser desferido pareceu uma eternidade até enfim atingir o alvo. A espada penetrou e transpassou, renascendo do outro lado, uma chama branca brotando de dentro do aço duro e negro.
Urros de alegria vieram do exercito e Cornell sentiu um alivio subir de sua barriga que não sentia a mais de cinco anos. Elbereth girou a espada a fim de decepar o braço de Dava em um só golpe. Quanto a Dava, não parecia ter demonstrado nenhum sinal de ter sido atingido, com a mão esquerda livre desferiu um forte soco na garganta de Elbereth, arrebentando-lhe o elmo e o queixo e lançando-o longe. O silencio estalou no exercito como um raio. Dessa vez Elbereth se contorcia tentando respirar enquanto engasgava com sangue e aço. Dava quebrou a ponta da espada que havia transpassado seu braço e a enterrou no peito de Elbereth, ali, naquele golpe, ele não matou só Elbereth, mas toda a esperança que um dia os homens tiveram.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Quando você parte a sorte ao meio com um machado.


Pela posição do sol, já devia esta perto do anoitecer e os dois estavam cansados de caçar uma maldita corça pro acampamento.
- Deveríamos voltar, de que adianta perder dois cavalos em troca de um veado? Já está longe e está anoitecendo. – Disse Raven Blon, o arqueiro estava com tanta preguiça que fedia.
- Cale a boca, eu sei que vi aquela corça entrar aqui, a culpa foi sua, devia estar com o arco armado, como é que você consegue dormir na cela do cavalo? – Já o soldado Jack Cob estava decidido a não voltar de mãos abanando e queria usar o machado novo que conseguira como espólio de guerra na ultima batida contra o exercito francês, pendia preso á cintura, com detalhes dourados e prateados, devia valer uma fortuna mas ele mereceu.
- Anos de treinamento, meu caro – Zombou Raven enquanto abaixava a cabeça para não bater em um dos galhos próximos.
- Queria ver fazer isso em batalha, adoraria enterrar seu corpo e falar que eu avisei – Sorriu Cob.
- Já fiz uma vez, não lembra?
- Me esquecer? Foi por isso que ganhei essa cicatriz – apontou para um corte no queixo. – Devia ter retribuído o favor a você, não?
- Um beijo de sua bela irmã quando voltarmos e estarei satisfeito.
- Bastardo – Riu e parou – Acho que ouvi alguma coisa, ali, acho que está por aqui...- Já havia escurecido e não se via tão bem quanto a uns minutos atrás, o que fez Blon dar pouco crédito, sendo a quinta vez que ele repetia isso. – Vê se não dorme agora, Blon, vamos nos separar, encontramo-nos aqui – Sacou a espada e fincou-na em uma árvore – bem aqui, ok? Quer apostar quem vai pegar o veado?
- Que tal seu belo machado? – Sorriu Blon, sabia que Jack estava amando aquele machado mais que a própria mãe.
- Com seu belo arco? – Jack sabia que Raven amava o arco mais que o próprio pai.
- Até parece, vai logo embora antes que a corça faça-nos de idiota outra vez.
- Medroso – e cavalgou silencioso para dentro das árvores, não sem antes dar uma tapa no cavalo de Blon, que empinou, Blon resmungou alguns palavrões e se endireitou na montaria.
Dessa vez Cob parecia estar certo, realmente se ouvia alguma coisa, Blon ouviu o som vir da direção oposta da que Cob havia tomado.
- Devia ter apostado com o miserável, aquele machado calharia – desceu da montaria e armou o arco e andou silencioso, atento aos sons na sombra, apesar de estar escuro, era um bom arqueiro e dificilmente falhava mesmo nas sombras. Os sons aumentavam à medida que o seguia, silencioso, e ao alcançar uma clareira onde a luz do luar banhava a superfície do mato ele viu a relva próxima se mexer com violência e dela saltou uma criaturinha. Preparou a flecha e já estava quase soltando quando se deteve, não era uma corça, era um homem, ou devia ser um, era um... homenzinho? Era um homenzinho pequeno e ele cantarolava agora, sentara na clareira encostando-se a uma árvore e descalçava as botas enquanto esticava os dedos, como que cansado de um longo dia de caminhada, mas não era um homenzinho qualquer, estava de verde, todo de verde, com um chapéu com uma pena vermelha e um trevo de quatro folhas presa nele, seu cabelo era ruivo e também possuía uma barba ruiva. Do cinto pendia uma bainha com um cabo prateado e podia se ver uma pesada bolsa de moedas, ‘’santo deus!’’ pensou ‘’é um leprechaun!’’ Apesar da surpresa, ele sabia, já ouvira historia quando era criança desses homenzinhos, apesar de ter crescido na Bretanha, ouvia historias do seu avô irlandês e os leprechaun eram de lá, ele dizia que havia capturado um e este lhe mostrara em troca da liberdade, um tesouro perdido. Não era de muito credito já que o avô morrera como um comerciante pobre, mas ainda assim, lá estava um leprechaun! ‘’devo capturá-lo, antes que me perceba, talvez consiga encontrar algum tesouro ou boa sorte. ’’
Apontou a flecha estrategicamente e a atirou, passando pelo tecido e atingindo a casca da árvore mais próxima sem ferir o homenzinho. O leprechaun ficou atônito, pego de surpresa, tentou arrancar a flecha, mas não conseguiu, desajeitado, puxou a espada da bainha e gritou:
- Quem vem lá? – Estava com um pouco de medo do incerto, mas via-se que era corajoso e continuou com a espada levantada.
- Não tenha medo Mestre Leprechaun, não tenho interesse em tirar sua vida. - Isso não deu alívio algum a ele e se se sentiu melhor ao ouvir isso, não demonstrou, mantendo uma carranca desconfiada e mal-humorada.
- O que você quer? Mais um miserável que quer tesouro e boa sorte?
Raven se sentiu muito idiota, era tão obvio, porém quando ele ia falar... um grito. Jack Cob entrara na clareira com um salto brandindo o machado acima da cabeça com os dois braços, desceu violentamente o machado na cabeça do leprechaun e partiu-a ao meio. Blon estava sem acreditar, Cob matara o leprechaun, assim, do nada, isso não podia ser verdade. Cob ainda urrava do calor do golpe e do sucesso quando toda a alegria desapareceu de seu rosto, jurara que era um veado que acertara, não um homenzinho verde. Olhou para Blon procurando palavras mas não as encontrou, Blon deu as costas e seguiu de volta ao cavalo. Montou sem dizer uma palavra, Cob o alcançou e tentou falar alguma coisa.
- Eu não sabia, eu achava que era um cervo, eu, era mesmo um leprechaun?
- Era, e você o matou que maravilha não é? Acabou de nos amaldiçoar.
-Tudo bem, mas acreditar nessas bobagens... – Aquilo irritou Blon, Cob acabará de ver o leprechaun e vinha dizer que era uma bobagem, virou-se e puxou a gola da cota do amigo para próximo do seu rosto.
– Nem mais uma palavra, ouviu? Chega, Cob, chega... amaldiçou-nos, sei disso, matou a boa sorte, jogou-nos azar eternamente, não tem idéia do que fez... – Cob arrancou o braço de Blon com uma arrancada e disse:
- Fique com seus contos de fadas que seu avô idiota contava pra você dormir pra ele poder foder sua mãe enquanto ainda era bonita. – E mergulhou nas sombras. Blon desejou enfiar uma maldita flecha nas costas do infeliz, mas decidiu ignorá-lo, era uma longa caminhada para o acampamento e não queria arriscar uma briga com tanto azar em jogo.
Já estava a alguns minutos cavalgando no silencio quando ouviu um som próximo, era a corça miserável, viu-a pular bem na sua frente e se meter no mato outra vez. Armou o arco e saltou do cavalo, voltaria com a corça e passaria na cara de Cob quando se encontrassem novamente no acampamento, após alguns passos, encontrou na comendo no pasto escuro entre as árvores, apontou e atirou, ela caiu imediatamente, puxando um pouco de ar enquanto a vida escorria pelo buraco da flecha. Pegou-a e a levou para o cavalo, prendeu-a bem e cavalgou com velocidade para o acampamento. Pensou em esperar Cob quando alcançou o campo aberto mas decidiu seguir em frente, encontraria o caminho do acampamento tão bem como ele.
Havia cavalgado uma hora quando finalmente avistou as luzes do acampamento. Passou pelos vigias, mas os seus olhares não eram satisfeitos como esperara, entrou mais a dentro e as pessoas o olhavam horrorizados, não entendia isso, mas continuou. Chegou na barraca que usavam para a cozinha, desceu o animal e jogou-o no chão. – Aqui está o jantar – Disse, satisfeito.
- Que brincadeira de mal gosto é essa? – Disse Cloff Humb, o cozinheiro do exercito, com seu bigode sujo de gordura e sua manta manchada de sangue. – O que significa isso, Blon? Essa flecha é sua, foi você que fez isso?
- Claro que fui, o que você quer dizer com isso? – Cloff sempre ficava satisfeito com as caçadas de Blon e Cob, não compreendia o por que do mal humor mas quando olhou para o animal faltou-lhe ar e uma tontura o acometeu com ferocidade, não era a corça que havia matado, era Jack Cob.