sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Agente do Caos


Já haviam se passado duas horas desde que a energia caíra no bairro. Nos primeiros minutos houve bastante movimento dos moradores mas com o tempo todos se acalmaram, podia-se ouvir crianças brincando na rua, ver luzes de laterna ou velas se movendo nas janelas das casas e apartamentos, o silencio tranquilo e a escuridao calma. Ele estava na varanda do seu apartamento, resolvera ficar ali tocando guitarra a luz de uma vela que vez em outra oscilava com o vento, a sua família já tinha ido se deitar tem um tempo. Vez em outra parava e sentia a brisa fina e o silencio tranquilo da noite, pensamentos lhe doiam e logo o faziam voltar a tocar o instrumento afim de esquecer qualquer perturbação. Estava satisfeito, planos formigavam em sua mente, viagens, amigos, guitarra, então cortou o dedo mindinho em uma corda, levou o dedo a boca e chupou ele, suspirou um ''au'', pegou a vela e se levantou. Sentou no sofá da sala e observou o corte, um corte bobo. Espreguiçou e foi até a cozinha beber um copo de água. Uma sensação estranha perpassou ele, como se algo houvesse o ultrapassado, engasgou com o gole de água. Arfou um pouco e terminou o copo, quando pegou a vela e se dirigiu para sala ela apagou e ele acabou topando na quina da parede, resmungou baixo uns palavrões e começou a procurar fósforos no escuro da cozinha. Achou eles, riscou e acendeu a vela, porém, nesse exato momento viu algo correr de baixo da mesa e passar para o quarto dos fundos, esbarrou no fogão e desapareceu no escuro. O susto deixou a vela cair e apagar de novo. Atônito cai de joelhos e começa a procurá-la, a agarra e acende, quase esquece de respirar, atrapalha-se e acaba apagando-a com sua respiração outra vez ‘’merda merda merda’’. Se levanta e fica paralisado pensando no que fazer. O silencio doía de tanta ansiedade, anda hesitante em direção ao quarto dos fundos, seu quarto. A chama da vela torna cada sobra misteriosa demais, cada passo uma eternidade de sensações e suspense, entrando no quarto passa os olhos em todos os cantos e nada. Não olhará embaixo da cama, com muito receio começou a se abaixar, aos poucos a vela iluminando a escuridão embaixo e... nada. ‘’Talvez tenha sido imaginação’’ ele considera, porém quando esta se levantando a porta do quarto bate com força, ele gira mas não ve nada. Sai do quarto a tempo de ver o vulto estranho passar pela cozinha e arrancar a porta da geladeira causando um alto som estridente. O silencio senta como a poeira que baixa e ele escuta seu pai se levantar e correr em sua direção enquanto ouve seus irmãos e mãe gritarem em medo. Olhou para o pai e não encontrou palavras para explicar, nesse momento o som da mesa da sala se quebrando chama a atenção dos dois. O pai corre para a sala e então uma explosão de silencio. Sessou-se o som de passos, o som da mesa, o som dos gritos, um silencio duro prevalecia seguido de um chiado, um som estranho, sobrenatural, porém humano. Um grito rasga toda a noite, sendo quase impossível distinguir as palavras de dor e desespero do pai. Pavor era o que sentia, sem pensar em como reagir, o que fazer, nada vinha a ele. Os gritos eram tenebrosos e uma sinfonia de terror prevalecia naquela casa. Correu para o seu quarto e se trancou lá dentro, não conseguia pensar em seus irmãos, mãe, vizinhos, os gritos desesperados e aterrorizantes do pai só o enchiam de medo e pavor. Se encolheu no canto do quarto tentando tampar os ouvidos. Mais uma vez silencio e poucos segundos depois os gritos em conjunto de sua mãe e irmãos, rasgou a cabeca com as unhas tentando tampar os ouvidos... ''Chega!'' gritou, ''Chega! Pare!'' e saiu em disparada para os gritos, na cozinha passou e pegou uma faca, continuou em direção a sala e... Um cenário.
A sala inteira parecia tremer de medo com a luz tremeluzente de uma vela que jazia no chão, derrubada, derrotada. O que a luz revelava faria juz se realmente as coisas tremessem... Sangue, sangue, destruição. Pedaços de mesa, sofá, cadeiras partidas e... pedaços, corpos, cabeças, tripas, um cenário de horror. E no meio disso tudo havia uma figura ativa, o agente do caos. Coberto de sangue suor e ação, lá estava ele com uma faca suja nas mãos... Encarando a si mesmo, olha para a faca nas suas mãos e vê o sangue em seu corpo, em suas roupas, em sua alma. Ele era o agente do caos.

2 comentários:

  1. confesso que fiquei com medo, senti a intensidade das sensações como se estivesse acontecendo comigo.

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